"Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão." (p. 108)
"O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-los, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu." (p. 109)
Capítulo 3
A dialogicidade: essência da educação
como prática da liberdade
Por: Caroline Reis
Palavra: duas dimensões > ação e reflexão, de forma solidária. “Não há
palavra verdadeira que não seja práxis.” p. 107
Palavra: ação = Práxis
Sacrifício:
da ação = palavreria, verbalismo
reflexão
da
reflexão = ativismo
Palavra inautêntica: resulta da dicotomia entre ação e reflexão. Sem
ação, a reflexão é sacrificada automaticamente, e tudo se transforma em
palavreria. é palavra oca. Não há denúncia verdadeira sem compromisso de
transformação, nem este sem ação. (p. 108)
Ativismo: ação sem reflexão. Nega a práxis verdadeira e impossibilita o diálogo. (p. 108)
A existência não pode ser muda, mas precisa nutrir-se de palavras
verdadeiras para mudar o mundo. “Existir, humanamente, é pronunciar o
mundo, modificá-lo. (p. 108)
Diálogo: exigência existencial humana. Não é só “depositar ideias” um no outro,
nem discussões, polêmicas, mas sim “encontro em que se solidarizam o refletir e
o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado”
p. 109
“A conquista implícita do diálogo é a do mundo pelos sujeitos dialógicos,
não a de um pelo outro. Conquista do mundo para a libertação dos homens.” (p.
110)
Educação dialógica e diálogo
“Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos
homens.” (p. 110)
Dominação: patologia de amor - sadismo em quem domina e masoquismo no
dominado.
Amor é um ato de coragem, nunca de medo, é compromisso com os homens, com a
libertação dos homens, é dialógico. (p. 111)
Amor: valentia, liberdade, sem manipulação, humilde. Suprimindo a opressão é
possível restaurar o amor que estava proibido. (p.111)
Autossuficiência é incompatível com o diálogo - humildade. (p. 112)
Não há diálogo sem fé nos homens: “Fé no seu poder de fazer e de
refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é
privilégio de alguns eleitos, mas direito dos homens.” (p. 112)
“O homem dialógico, que é crítico, sabe que, se o poder de fazer, de
criar, de transformar, é um poder dos homens, sabe também que podem eles, em
situação concreta, alienados, ter este poder prejudicado.” (p. 112)
“Ao fundar-se no amor, na humildade, na fé nos homens, o diálogo se faz
uma relação horizontal, em que a confiança de um polo no outro e
consequência óbvia.” (p. 113)
Confiança: junto com a fé nos homens, é a priori do diálogo. Faz dos
sujeitos dialógicos cada vez mais companheiros na pronúncia do mundo. (p.
113)
Não existe diálogo sem esperança. “A esperança está na própria
essência da imperfeição dos homens, levando-os a uma eterna busca. Uma tal
busca, como já vimos, não se faz no isolamento mas na comunicação entre os
homens - o que é impraticável numa situação de agressão.” (p. 113-114)
O diálogo começa na busca do conteúdo programático
“Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo
programático da educação não é uma doação ou uma imposição - um conjunto de
informes a ser depositado nos educandos - , mas a devolução organizada,
sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou
de forma desestruturada.” (p. 116)
Educação autêntica: A com B, mediatizados pelo mundo. “Mundo que
impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista
sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou
desesperanças que implicitam temas significativos, à base dos quais se
constituirá o conteúdo programático da educação.” p. 116
“Para o educador humanista ou revolucionário autêntico, a incidência da
ação é a realidade a ser transformada por eles com os outros homens e não
estes.”
Invasão cultural: Não se deve esperar resultado positivo de um
programa educativo que desrespeita a particular visão de mundo do povo, nem com
boa intenção, pois é sempre uma invasão cultural.
As relações homens-mundo, os temas geradores e o conteúdo programático
desta educação
Situação presente + reflexão das aspirações do povo > organização do
conteúdo programático da educação ou da ação política. p. 119-120. Propor ao
povo, através de certas contradições básicas, sua situação existencial como
problema, que o desafia e lhe exige resposta no nível intelectual e da ação. P.
120
Universo temático / Conjunto de temas geradores: o momento de buscar o
conteúdo programático é o início do diálogo da educação como prática da
liberdade. Essa investigação precisa ser dialógica e conscientizadora, de
maneira que os indivíduos apreendam os temas geradores e tomem decisões de
consciência em torno dos mesmos. p. 121
Investiga-se o pensamento-linguagem dos homens referido à realidade, os
níveis de sua percepção desta realidade, sua visão de mundo. p. 122
A vida dos homens se dá no mundo que eles recriam e transformam
incessantemente; o aqui não é somente espaço físico, mas também histórico.p.
124
Situações-limite: não devem ser barreiras insuperáveis, em si
mesmas geradoras de um clima de desesperança. A percepção que os homens têm
delas num dado momento histórico, como um freio, a partir do momento que a
percepção crítica se instaura, se desenvolve um clima de esperança e confiança
que leva os homens a se empenharem na superação das situações-limite. p. 126
O produto do homem não pertence ao seu corpo, pelo contrário, o homem é
livre frente a seu produto - atividade produtora desafiadora - atos-limite.
p 127
Os homens são seres da práxis: através de sua ação sobre o mundo,
criam domínio cultural e histórico; sendo práxis, reflexão e ação
verdadeira de transformação da realidade, fonte de conhecimento reflexivo e
criação - transformação. p. 127-128
Ação transformadora da realidade objetiva: homem produz bens materiais,
objetos, instituições, ideias, concepções. Criam história e se fazem seres
histórico-sociais. p. 128
Continuidade histórica: “Uma unidade epocal se caracteriza pelo
conjunto de ideias, de concepções, esperanças, dúvidas, valores, desafios, em
interação dialética com seus contrários, buscando plenitude.” p. 128-129 Temas
da época: representação concreta destas ideias, valores, concepções,
esperanças e obstáculos ao ser mais dos homens. p. 129. Universo
temático: é o conjunto dos temas em interação. p. 129
Plena realização da tarefa humana: permanente transformação da realidade
para a libertação dos homens. p 129-130.
Os temas ora estão envolvidos, ora estão envolvendo as situações-limite,
e as tarefas que eles implicam, quando cumpridas, constituem os atos-limite.
p. 130
“As situações-limite implicam a existência daqueles a quem direta ou
indiretamente “servem” e daqueles a quem “negam” e “freiam”. p. 130
A investigação dos temas geradores e sua metodologia
A investigação do tema gerador, se realizada por meio de uma metodologia
conscientizadora, além de nos possibilitar sua apreensão, insere ou começa a
inserir os homens numa forma crítica de pensarem seu mundo. p 134
Descodificação da situação existencial - implica em: abstrato >
concreto; partes > todo > partes; reconhecimento do sujeito no objeto e
do objeto com situação em que está o sujeito. p 135.
Situação existencial codificada > cisão - descrição da situação =
descobre a interação entre as partes do todo cindido. p. 135
Investigar o tema gerador é investigar o pensamento humano,
referido à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade, que é sua
práxis. p. 136
A investigação temática é um esforço comum de consciência da realidade e
de autoconsciência, que a inscreve como ponto de partida do processo educativo,
ou da ação cultural de caráter libertador. p. 138
A significação conscientizadora da investigação dos temas geradores. Os
vários momentos da investigação
Risco: deslocar o centro da investigação , que é a temática significativa, a
ser objeto da análise, para os homens, como se fossem coisas. p. 139
Investigação temática se dá no domínio humano, não pode ser um ato
mecânico. É processo de busca, de conhecimento, de criação e exige dos seus
sujeitos a interpenetração dos problemas. p. 139
Investigação pedagógica e crítica, não perde-se em visões parciais da
realidade, mas se fixa na compreensão da totalidade - envolvimento
histórico-cultural. p. 139
Tanto quanto a educação, a investigação que a ela serve tem de
constituir-se na comunicação, no sentir comum uma realidade que não pode ser
vista mecanicistamente compartimentada, simplistamente bem comportada, mas na
complexidade de seu permanente vir a ser. p 140
A investigação temática envolve o pensar do povo, nos homens e entre os
homens, sempre referido à realidade. p. 140
A superação não se faz no ato de consumir ideias, mas no de produzi-las
e transformá-las em ação e comunicação. p. 141
“Os homens são porque estão em situação. E serão tanto
mais quanto não só pensem criticamente sobre sua forma de estar, mas
criticamente atuem sobre a situação em que estão.” p. 141
“A tarefa do educador dialógico é, trabalhando em equipe
interdisciplinar este universo temático recolhido na investigação, devolvê-lo,
como problema, não como dissertação, aos homens de quem recebeu.” p. 142
Resumão capítulo 3: Dialogicidade
Diálogo: é um fenômeno humano; é a essência da educação problematizadora;
práxis (ação + reflexão); é transformador; é uma exigência existencial.
Educação dialógica: confiança mútua; pensar crítico; requer humildade;
compromisso com a libertação; é fruto do amor aos homens e ao mundo; não há
dominação; aspiração em ser mais.
Conteúdo programático: considera o homem como ser histórico e
da práxis; expurga visões pessoais; nega-se a visão do opressor.
Como chegar ao conteúdo programático?
Começa na prática social global > busca a emersão das consciências
> universo temático (divide-se em tema dobradiça e tema gerador) > visa TRANSFORMAÇÃO.
Problematização da realidade
Tema dobradiça: redução temática não sugerida pelo povo;
necessidade comprovada detectada pelos educadores.
Tema gerador: redução temática definida pelo educador e pelo povo, a partir da
situação de mundo dos educandos (envolvem-se as situações-limite; visam o
inédito viável - através de atos-limite; consciência máxima possível); vai do
geral ao particular; corresponde ao pensamento-linguagem da realidade
(consciência histórica).
Metodologia conscientizadora: visão holística; elaborada mutuamente;
educandos + equipe interdisciplinar; não é mecânica; codificação e
descodificação de situações existentes; ato cognoscente.
Por: Caroline Reis
https://www.metropoles.com/brasil/feminicidios-nao-constam-em-dados-oficiais-do-ministerio-da-justica?fbclid=IwAR3wVw69VJsEDk39uUr6csVEtORmmqeVlxbSeuqx1bTEvy6tYMWp3aSw78c